Saí do hospital apressada, enfiando o jaleco na bolsa de qualquer jeito. Prendi os cabelos em um coque desarrumado no mesmo instante em que o celular tocou, e o nome de Candice apareceu piscando no visor.
— Eu juro que estou chegando! — praticamente gritei ao telefone enquanto atravessava correndo o sinal enquanto ainda estava fechado. Mal sabe ela que não estou nem a 4 quarteirões do restaurante.
— É mentira, sei que ainda deve estar cruzando a Deacon Road. — falou ela. Droga, esqueci do quanto Candice me conhecia — Seu lugar está guardado, então tem como apressar o passo só um pouquinho? Aqueles donuts na prateleira estão me chamando, praticamente berrando em meus ouvidos, e você sabe da minha dieta.
Soltei um grande suspiro.
— Acalme-se, Candy. Não se deixe levar pelas vozes dos donuts. Lembrou de respirar e fechar os olhos? — falei, usando nossa antiga técnica que usávamos em todas as ideias de dietas de Candice, enquanto corria contra o tempo e cruzava o último quarteirão.
— Que tal outra hora? Tem muita gente aqui hoje, sabia?! Ah é,você nem chegou ainda! — ouvi ela bufar alto — Lisa! Joseph Morgan acabou de entrar! Parece que meu coração vai saltar pela boca, tem como você chegar agora?!
No mesmo instante, irrompi da porta do Enzo's, praticamente indo ao chão com o enorme tombo que levei. O lugar estava lotado e barulhento, portanto não me notaram. Tirando a garçonete que passava por ali naquele instante e praticamente se dobrou de rir de um modo discreto, mas ela não conta. Pelo menos não pra mim.
Vi Candice sentada a uma mesa da direita, ao lado da janela. Sentei em uma cadeira a sua frente e olhei na mesma direção que ela.
— Ah, por favor, pare. — pedi, apontando discretamente para o alto de cabelos dourados e barba rala por quem Candice vivia pagando um pau — Ele nem te nota.
— Como me notaria enquanto conversa com aquela vadia da Phoebe? — ela olhou feio para a morena escultural ao lado de Joseph enquanto bebia sua água. Respirei fundo.
— Candy, eu já te falei mil vezes: parte pra outra! Joseph não é o único cara gato do mundo, o que não falta é homem.
— Ah, claro, você diz isso porque já tem o Jesse! — ela resmungou, pegando o menu — Eu ainda vou ficar com 50 anos, presa em uma casa, fedendo e morando com 10 gatos. Sem ninguém, ouviu bem? Porque pelo jeito que as coisas andam, parece que meu futuro não é muito imprevisível.
Revirei os olhos e, antes que pudesse falar alguma coisa, a garçonete se aproxima de nós. Aquela que havia rido de mim na entrada.
— Já escolheram? — perguntou ela, fazendo o máximo de esforço pra não olhar pra mim, pois sabia que cairia na gargalhada novamente.
— Pode me trazer o prato do dia, com fritas e uns dois burritos pra depois, seis donuts recheados de coco e chocolate e uma cerveja. — Candice disse sem nem olhar pra garçonete, e continuou lendo o menu pra ver se escolhia mais alguma coisa — Não, quer saber, não me traga uma cerveja, eu ainda tenho que dirigir. Me traga um suco de laranja com bastante açúcar, em uma jarra, por favor.
Arregalei os olhos por um instante, parecendo ver em minha frente a dieta de minha amiga indo pro espaço. A garçonete anotou tudo com cautela e se virou pra mim, abrindo um sorriso largo demais.
— Pode me trazer o prato do dia com muita salada e uma água, por favor. — falei devagar, ainda olhando Candice.
Quando a garçonete se retirou, fulminei Candice com o olhar.
— Você está maluca? Seis donuts?! — fiz o número com as mãos — O que tínhamos combinado? Não se deixe levar pelas vozinhas!
— Ok, ok, eu fui precipitada! Mas elas gritaram tanto que estavam ficando insuportáveis. — ela bufou, apoiando os cotovelos na mesa e olhando diretamente pra mim — E então, salvou muita gente hoje? Consegui te tirar do ambiente dos doentes e finalmente almoçar com você, como fazíamos antes.
— Não diga isso. — ri da ironia dela, me recordando naquele momento de quanto tempo fazia que não almoçávamos juntas — E você sabe que ainda não sou oficialmente uma médica. Estou na fase de residência, esqueceu?
— Mas já se comporta como uma, minha amiga! Participa das cirurgias e tudo, e ainda trabalha com aqueles médicos gatos do hospital de Manhattan. Se eu fosse você, dava um jeito de ficar doente a qualquer minuto pra eles me consultarem de verdade...
— Ei! — olhei feio pra ela, em sinal de repreensão, mas na verdade não saiu como eu esperava. Dois minutos depois rimos disso, em compensação.
Candice é minha amiga de infância, e muito louca, por sinal. Tem 22 anos e está cursando uma faculdade de Moda e Design, que veio depois da de Jornalismo, que veio depois da Educação Física. Essa foi por causa dos professores, mas isso nem vem ao caso.
Candy tem um probleminha com homens. Seu último relacionamento durou 3 meses, e ela largou o cara porque ele simplesmente não era um guitarrista renomado e nem bonito o suficiente para causar inveja. E, claro, porque não era romântico o bastante. Desde esse cara, ela se intitulou anti-caras, faltando colocar uma placa de probido homens na testa. Isso foi até ela conhecer Joseph, o filho do dono da concessionária Toyota na cidade e que cursava Engenharia Civil na mesma faculdade que Candice. O cara era charmoso e tudo mais, mas só havia falado com Candice uma vez, e foi para perguntar as horas. Nada mais do que isso, e desde então ela é obcecada pelo cara. Mais ou menos isso.
— E não tem chapinha no consultório médico? — perguntou ela após nossa comida chegar, enquanto ela já tirava os donuts do prato em primeiro lugar.
Sabia que ela se referia ao meu estado. Um coque torto e bagunçado e minha camisa meio amassada. Mesmo sem me olhar, eu sabia que minha cara devia estar parecendo a de uma pessoa que não dorme a dias.
— Não, e nem um ferro. — eu ri, bebendo um gole do suco enquanto Candice fazia uma cara de nojo pra mim — Não olhe pra mim assim, isso é o estado de uma pessoa que trabalha, com licença.
— Eu também trabalho, e não saio a luz do dia nesse estado.
— Você é estagiária em um estúdio de fotografia, não compare. — eu bufei, dando a primeira garfada em meu bife com fritas. Só agora percebi o quanto estava faminta.
Candice pareceu perceber, pois me olhou de olhos esbugalhados.
— Ei, vá com calma, Godzilla! — ela deu um tapinha na mesa, e reparei que eu não havia parado de mastigas, pois antes da primeira garfada descer goela abaixo, eu já estava colocando outra na frente — Cruzes, Lisa, parece que não come a dias. Eu falo pra você maneirar um pouco no trabalho, parece que só vive pra isso.
Revirei os olhos e continuei a comer como se ela não havia dito nada.
Quando acabamos, a garçonete veio juntar nossos pratos e em seguida trazer os burritos de Candice e mais um pedaço de torta e um milk shake que ela pediu na hora. Ela também jogou o jornal do dia sobre a mesa, mas eu nem reparei.
— E então, hoje você vai encontrar o Jesse? — ela perguntou, lambendo os dedos com a cobertura de chantily da torta.
— É, vou sim. — respondi, sem prestar muita atenção — Ele quer me levar no Borderline novamente, eu não entendo.
— Ah, eu é que não entendo você, Lisa! Dá pra levantar as mãos aos céus e agradecer por você ter um namorado gato e rico que te ama mais do que a própria vida e te paparica com roupas, presentes caros, restaurantes caros, viajens caras e etc?! — ela levantou a sobrancelha, como se aquilo já bastava.
Eu revirei os olhos, balançando a cabeça. Eu ficava frustrada com esses pensamentos de Candice, como se a fortuna de Jesse fosse algo que eu apreciava. Nunca foi e nunca será.
Jesse Robins era meu namorado por 4 anos. Aliás, hoje nós completávamos 4 anos. Ele era filho e quase-presidente da Agência Robins, uma empresa de relações internacionais propagada ao lucro completo. O sr. David Robins, meu atual "sogro", era um grande homem de negócios que praticamente fabricava dinheiro em todo o país, e fora dele. Por sorte, Jesse se interessava pela mesma área e estava seguindo os mesmos passos do pai, e seu futuro já estava mais do que garantido.
Nós nos conhecemos em uma simples conferência de medicina, onde eu, por sorte ou destino, seja lá qual for, fui acompanhar o doutor Hendrick, já que na época eu ainda era apenas uma ótima aluna de classe da faculdade e estava dando passos largos para meu grande estágio no Hospital de Manhattan. Jesse e o pai e mais alguns da empresa estavam lá pra dar uma palestra aos estudantes e médicos, pois uma grande parceria se formaria ali. Não sei como, ou quando, e até hoje não entendo como Jesse me viu e me observou no meio daquela multidão, cheio de estudantes de medicina — como eu — louras, gostosas, ricas e bem sucedidas. Mas aconteceu.
Jesse era lindo. Era daqueles caras que nunca passam despercebidos nas ruas. Seu cabelo cor de areia era meio repicado em um corte exclusivo, e sempre andava impecável, seu corpo forte e magro escondido atrás de roupas de marcas importadas e caríssimas. Dirigia uma BMW preta novinha em folha e morava no melhor bairro da cidade, em compensação.
Enfim, nossa história se desenrolou em muitos altos e baixos e aqui estamos nós hoje, completando 4 anos de relacionamento. Eu o amo, e o amo demais. Jesse me ajudou a superar expectativas que antes eu não achava ser capaz, ele sempre esteve do meu lado, acima de tudo é meu amigo, e beija muito bem — na cama ele é sensacional, mas procuro não divulgar muito isso.
— Você sabe o que significam 4 anos, não sabe? — Candice continuou, vendo que não respondi — Alô-ou! Acorda, cinderela, se prepare pra um lindo anel de diamantes passando por esse seu dedinho, meu bem.
— O que? — eu dei uma risada forçada — Claro que não. Como pode ter tanta certeza disso?
— Ah, fala sério! Vai me dizer que nunca conversaram sobre isso? Nunca pensaram em nenhum momento na possibilidade? — ela parecia espantada.
— Claro que já falamos sobre casamento, oras! — bufei — Mas duas ou três vezes, nada sério ou oficial. E uma delas foi vendo o reality do Glitz, então nem conta. — dou de ombros.
Candice piscou os olhos, ainda me olhando espantada como se eu fosse a maior doida varrida que ela já havia conhecido.
— Vocês são malucos. — ela murmurou — O cara te ama, Lisa. Porra, vocês se amam! O que estão esperando? Que do nada uma luzinha vai piscar na cabeça de vocês e pronto!, estou com vontade de casar?! Mas é claro que não! Os anos passam, nós ficamos velhos, quando perceberem já vão estar com 30 e o casamento já vai estar completamente fora de moda e perder a sua magnitude que ainda resta, minha amiga! Estou dizendo, não perca tempo, enlace logo seu gato oficialmente antes que bruacas assassinas venham pegá-lo de você. — ela bufou, dando uma enorme mordida na torta, como se estivesse aborrecida.
Eu segurei o riso. Candice era louca pra casar, era seu sonho de vida. Os caras que ela conheceu não tinham a menor vontade disso, por isso me considerava a maior sortuda do universo. Vendo que ela iria continuar com raiva e olhando pra janela, peguei o jornal jogado na mesa que a garçonete havia deixado e li apenas o que havia na primeira página, tão estampado que quase ofuscou meus olhos.
Havia a foto de um cara. Cabelos negros e bagunçados, olhos muito azuis e raivosos. A notícia era bem clara: "Logan Lerman continua a solta!", seja já quem fosse. De repente me lembrei do noticiário que passou na TV a alguns dias atrás, enquanto eu almoçava no hospital. Pelo jeito, esse cara estava em todos, e era um assassino daqueles que a gente não pode nem sonhar que dá medo. O cara era perigoso e havia cometido mais um homicídio, pra variar. Todos a sangue frio.
Um arrepio se passou pela minha espinha.
— Ei, Lisa! — gritou Candice aos meus ouvidos — Acorda! O que está lendo nesse jornal?
— Nada. — balancei a cabeça, jogando o jornal de lado de qualquer jeito.
Não adiantou, Candice pode ler o que estava escrito.
— Ah sim, ainda estão falando nesse tal Logan. — ela chupou um pouco do milk shake — Sinceramente? Esse cara me dá medo. Medo não, me dá um completo pavor! Acho que se eu estivesse andando a noite e entrasse em um beco qualquer e ele aparecesse do nada na minha frente, eu juro que morria do coração, amiga, eu caía durinha e nunca mais voltava, de tanto medo desse cara. Olha esses olhos! São lindos, mas são pavorosos. Aliás, o cara todo é um gato de doer, um verdadeiro deus do sexo, mas nada disso importa perto de quem ele é...
E ela continuou tagarelando sobre o tal Logan por um tempo, e eu não me dei ao trabalho de ouvir. De repente virei a cabeça e olhei o relógio por sobre o balcão. Precisava ir pra casa, urgente. O metrô aquela hora deveria estar horrível, por isso estava agradecendo a Deus por Candice estar ali pra me dar carona.
Candice estacionou o Camry V6 na porta do meu apartamento na avenida Bogstreet. Não era lá grandes coisas — e não era mesmo —, mas só pra mim era tudo que eu precisava. Era um prédio meio velho e caído, com tijolos vermelhos e o elevador não funcionava mais. Não havia porteiro e nem nada, o próprio havia se demitido. Era eu no apartamento 8D e mais alguns vizinhos espalhados, aos quais eu nem conhecia. Só uma velhinha no andar de baixo.
— Eu não sei o que você ainda faz nesse lugar. — Candice suspirou — Não sei quantas vezes Jesse já te ofereceu apartamentos, um melhor do que o outro, e você continua nessa espelunca, fala sério, Lisa.
— Eu pago essa espelunca, Candy. — encarei ela — Pago com o meu dinheiro, com o meu trabalho. Quando eu for uma médica renomada e finalmente rica, eu compro o melhor apartamento da cidade.
— Não precisa ser uma médica renomada, o Jesse já te dá tudo. Ou melhor, pelo menos ele tenta. — ela semicerrou os olhos, como se eu fosse a culpada — Não está vendo agora? Se não fosse pela sua amiga linda e maravilhosa aqui, você estaria pegando um metrô lotado de gente nojenta e fedendo nesse horário, e tudo porque você não aceitou aquele RAVA fabuloso da Toyota que Jesse queria te dar! Poxa, sabia que eu o ajudei a escolher aquele dia?
Revirei os olhos, começando a me entediar.
— Não vamos começar com isso, ok? Eu to cansada, tenho que tirar um cochilo antes de me encontrar com Jesse, não quero que ele me veja nesse estado. — eu ri fraco enquanto tirava o cinto.
— Lisa... — ela suspirou — Por favor, prometa não dar um pé na bunda de Jesse se ele lhe pedir realmente em casamento. Aproveita pra pensar, benzinho, olha só o que vai estar perdendo. E tudo vai dar certo. — ela abriu um largo sorriso.
Murmurei algumas palavras e me lancei pra fora do carro prata, indo em direção ao portão enquanto Candice cantava pneus pela pista. Ainda bem que comigo ela maneirava um pouco o jeito de dirigir. Subi as escadas e entrei no meu apartamento, só pensando em me atirar na cama e nada mais.
☀ ✨
Então, olá meninas! Alguém aí se lembra de mim? Antiga Lari Musso e bla bla bla.. Já faz muito tempo. I'm back haha enfim, vou começar essa história com o Logan, divo, perfeito, maravilhoso, e eu espero realmente, realmente mesmo que vocês gostem. Tenho muitos planos pra ela e pretendo terminá-la, se tudo der certo. Sei que vão ter muitos fantasminhas aqui no momento, porque ninguém vem aqui a tempo, nem eu... Mas vou passar a redivulgar o blog, e agradeceria se alguém também ajudasse >:O enfim, é isso aí, comentem por favor, quem ainda está por aqui, e aguardem o próximo capítulo. Beijos e abraços, fui! 🎉
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