sábado, 29 de agosto de 2015

Capítulo 3

 Mal tive tempo de pensar, pois ouvi algo se quebrando e foi aí que eu levantei. Minha visão ainda estava meio embaçada e o cansaço tomava conta do meu corpo, mas consegui enxergar os números vermelhos em cima do meu criado-mudo. 3:30 da manhã. Não era possível. Eu ouvia vozes, as pessoas não gritavam, mas não se hesitavam em pisar forte sobre o chão de madeira.
 E eram vozes maculinas.
 Vasculhei meu quarto á procura de alguma coisa que eu poderia usar ao abrir a porta, mas não achava nada. Estava muito escuro e eu não tinha a máxima coragem de acender a luz.
 Foi aí que as vozes cessaram.
 Eu prendi a respiração. Eu estava parada no meio do quarto ao lado da cama, eu não havia me mexido, mas agora muito menos eu pretendia me mexer. Meu coração estava acelerado. Será que eles tinham ido embora? Será que acharam alguma coisa pra levar? Eu não fazia ideia, porque sinceramente não havia nada pra levar, a não ser que tivessem achado o pote de dinheiro que guardo dentro da gaveta na cozinha, mas lá só tinham uns 30 dólares.
 Foi quando de repente um pânico horrível tomou conta de mim quando senti mãos tamparem a minha boca e um ferro frio e congelante encostado em minha cabeça.
 — Quietinha, quietinha...
 A voz masculina era suave e abafada, e falava perto do meu ouvido, o que me causou horríveis tremores. Meu coração pulsou e eu não sabia o que fazer, estava estática e apenas pensando que não existia forma pior de morrer.
 — Não fale. Não solte um pio.
 O cara falou mais uma vez e de repente os passos reapareceram de novo, dessa vez correndo, e abriram a porta do meu quarto em um rompante. Eu ainda não conseguia me mexer, mas consegui ver os dois caras que haviam entrado. Eles se vestiam completamente de preto, mas com a cara desnuda, então isso me fez pensar se eram bandidos realmente. Um era alto e forte e tinha a cabeça raspada, e segurava uma arma nas mãos. O outro era mais magro, mas era muito mais alto que o outro, e tinha um cabelo grande, que pegava quase no ombro, e também estava com uma arma na mão. Os dois olharam para o cara que estava me mantendo refém.
 — Está tudo limpo! — falou o de cabeça raspada. Eles estavam falando normalmente e baixo, o que me fez pensar que estavam querendo ser discretos. — Podemos ir agora, conseguimos despistar a polícia.
 — Ótimo. Está na hora, não vejo a hora de deixar essa cidade. — o cara que me segurava disse.
 De repente eles pareceram notar a minha existência.
 — John, quem é essa? — perguntou o de cabelo grande.
 John? Onde foi que eu ouvi esse nome?
 — Sei lá, deve ser a dona do apartamento. Acho que a acordamos.
 — Mas que belezinha, hein... — o cara de cabelo grande me olhou de cima baixo e eu já estava com uma certa raiva misturada com medo desses caras. Pior ainda que estava com a camisola que Candice havia me dado.
 — Ok, mas agora podemos ir, mate-a, senhor. — disse o cara de cabeça raspada, que também me olhou de cima abaixo, mas sem todo esse interesse.
 — Matá-la? Isso seria uma buzina para os policiais nos acharem, Connor. — falou John atrás de mim.
 Nesse momento, ele soltou sua mão de minha boca e me jogou na cama com violência, e nesse momento eu percebi o quanto eu quase chorava. Eu não tinha nem forças pra gritar, quando mais me defender, mas estava apavorada demais e tremia.
 — Por favor... — choraminguei.
 — Quieta! — John disse entredentes, e não havia tirado a arma de minha cabeça.
 Eu começava a quase soluçar nesse momento, e de repente a ideia de morrer não pareceu muito satisfatória.
 — John, é muito simples: a matamos e depois escondemos o corpo, só vão perceber que ela sumiu quando estivermos a milhas de distância, não está pensando em deixá-la viva pra abrir o bico, não é?!
 John pareceu pensar um pouco com a sugestão de Connor: me matar. Eu ainda não havia virado a cabeça pra trás pra olhar o sujeito que estava querendo me matar com uma arma na minha cabeça, mas seu nome não me era estranho, e eu fazia de tudo pra me lembrar naquele momento.
 — Não podemos matá-la. — John falou baixo, mas a ponto que todos escutassem — Pelo menos não aqui.
 Nesse momento, ele tirou a arma da minha cabeça, mas antes que eu pudesse falar algo, de repente tudo ficou escuro. Eu senti um pano sendo colocado na minha cabeça e eu já não enxergava mais nada e nem via as pessoas.
 Não. Eles não podiam fazer isso...
 — Vamos levá-la, é o único jeito. Não podemos matá-la aqui, vai ser muito óbvio, temos que sair o mais rápido possível dessa cidade, não temos tempo pra matar e depois enterrar um corpo! — dessa vez John quase gritou.
 — Eu entendo esse seu lance de ser discreto, John, mas levá-la não vai adiantar nada, ela só vai ser um peso a mais. — ouvi a voz de Connor.
 — Nós nos livramos desse peso mais tarde, agora precisamos ir embora!
 De repente, eu ouvi uma buzina muito alta vindo da rua. Ninguém buzinava daquele jeito na minha rua. "Porra..." ouvi a voz de John e de repente eu estava sendo arrastada pra fora com pontos a cegas e fiz a única coisa que me passou pela cabeça: gritar! "Me larga!" eu repetia inúmeras vezes, com a esperança de que algum morador fosse me escutar, já que era de madrugada e ninguém devia ter o sono tão pesado. Eu ainda esperneava o bastante e recebi pelo menos uns mil "cala a boca" e senti um soco no rosto.
 Bati a cabeça em algo duro quando me abaixaram e percebi que estávamos entrando em um carro. "Acelera, Luke!" gritou John e o carro começou a andar. "Quem é essa?" "Como assim?" "O que vamos fazer com ela?" eram perguntas que eu escutava de relance, pois tudo que eu sabia fazer era gritar.
 — CALA A BOCA! — gritou John mais uma vez — Ninguém vai te ouvir daqui, vadia, e pode chorar o quanto quiser.
 Porque na verdade eu estava chorando mesmo. Eu estava morrendo de medo.
 — Porque... Porque? — Eu repetia em meio a soluços e ouvi risadas no carro.
 — Apaga essa vadia, pelo amor de Deus, não aguento mais escutar essa voz.
 E foi quando eu senti uma forte pancada na cabeça e tudo ficou escuro.

 Vários flashs passaram pela minha cabeça. Em uma hora eu via vultos rápidos que pareciam uma estrada, depois pude jurar que vi o céu e sentir a turbulência de estar em um avião. Lembrava-me vagamente de meu estômago se retorcendo por alguns minutos, mas depois o apagão voltou. Vi paredes cinzas e um carpete indiano laranja passarem ao que pareceu uma memória muito distante. Eu parecia estar extremamente dopada.
 Quando finalmente voltei a mim, eu estava em um ambiente completamente diferente. Meus olhos ardiam, minha cabeça explodia e minha visão estava turbulenta demais pra que eu enxergasse um palmo a minha frente. Consegui virar um pouco a cabeça e senti o ambiente inteiro rodar, como quando acontece ao ir numa montanha russa sem comer nada. Meus olhos abriam e fechavam, eu estava completamente confusa e desnorteada.
 Lutei contra a dor no corpo e a exaustão e me sentei de uma vez só, num rompante. Abri bem os olhos, ignorando todas as dores que eu estava sentindo e finalmente me situei.
 Um quarto. Eu estava em um quarto.
 Olhei para baixo e vi que estava em uma cama de casal. Uma cama enorme com lençóis brancos de seda. Olhei para os lados e minha cabeça girou novamente, mas dessa vez pela surpresa e espanto. O carpete indiano laranja estava no chão a meus pés, com um belo piso de madeira que só me lembro de ter visto algo tão fino nas casas dos amigos da família de Jesse. A parede cinza estava sem nada, nem ao menos um relógio, um retrato. Olhei mais para minha esquerda e vi uma janela tão grande que pegava do chão ao teto, com uma cortina também cinza cobrindo tudo. Eu estava tão desnorteada que não imaginava o horário e muito menos que dia era, mas podia ver uns raios de sol querendo penetrar na cortina.
 Arfei. O que estava acontecendo? O que era aquilo? Lentamente, senti meu corpo tremer. Dessa vez percebi que estava com a mesma roupa, com a camisola de Candice.
 Candice. Jesse.
 Oh meu Deus, eles nem sabiam onde eu estava. Nem consigo imaginar a reação deles ao chegarem em meu apartamento e não me verem. O que eles diriam, o que iriam fazer? E meu estágio, minha faculdade, minha carreira...
 De repente senti uma vontade imensa de chorar. Nunca senti tamanha vontade de soltar tudo pra fora. Eu não era do tipo de pessoa que chorava, que se escondia pra isso, eu não precisava. Sabia exatamente o quanto já havia chorado na vida.
 Mas dessa vez parecia um real motivo. Eu não sabia onde estava, mas sabia exatamente que estava muito longe das pessoas que eu amava. Eu estava longe da minha vida.
 Mais rápido do que a vontade de chorar foi a raiva que se apossou de mim. Todo o medo que eu tive de morrer na mão dessas pessoas que deveriam estar só adiando a minha hora se transformou em um ódio imenso. Eles haviam me tirado de minha própria casa, me sequestrado, e por algum motivo eu tinha certeza de que iria morrer. E, pelo que eu via a minha volta, eles não eram apenas amadores.
 Com esse misto de sentimentos, olhei novamente em volta. Fora a cama, não havia muita coisa significativa naquele quarto chique que parecia de um hotel de Las Vegas. Finalmente me levantei. Demorei um pouco pra ficar em pé por conta das dores que eu sentia nas pernas, mas logo me localizei. Minha visão ainda estava turva, mas eu sabia o que queria olhar primeiro: a janela.
 No momento em que abri a cortina, quase fiquei cega. A claridade era tamanha que feriu meus olhos e eu tive que dar um passo pra trás. Quase caí na cama de novo, mas logo tentei me recompôr para me chocar com que vi.
 Nada. Isso era o que mais me assustava. Eu não via exatamente nada. Eu parecia estar em um lugar muito alto, mas não conseguia ver quase nada a minha frente. Porque simplesmente a única coisa que era visível era uma parede de metal.
 Um arrepio passou por minha espinha. Onde diabos eu estava?
 Olhei rápido para trás, dessa vez procurando algo por aquele quarto que eu poderia usar. Na minha antiga experiência isso não deu muito certo, tanto que estou aqui agora, mas iria tentar não falhar dessa vez. Andei um pouco por aquele quarto e percebi o quanto ele era grande e espaçoso, era praticamente do tamanho do meu apartamento.
 De repente me virei e percebi a porta. Por um impulso, me aproximei dela e encostei as mãos na maçaneta, mas parei imediatamente. Com certeza essa porta estaria trancada, e se eu mexesse nela, com certeza teriam capangas de cotia esperando qualquer movimento meu pra entrarem e sabe-se lá o que fazer comigo. Tirei lentamente minhas mãos, pensando em mais alguma coisa.
 Percebi que havia mais uma porta no quarto, só que era bem pequena que a principal. Dessa vez eu abri e vi que era um banheiro. Era bem maior que um banheiro de suíte normal. Tateei a parede atrás de um interruptor e acendi as luzes, que mais uma vez machucaram meus olhos.
 Não havia nada a mais, nada que me ajudasse. Cambaleei um pouco até a pia e me olhei no espelho.
 Meu cabelo estava um horror, Candice morreria se visse isso. Encontrei uns hematomas em meus braços que eu não conseguia me recordar da onde poderiam ter vindo. Mas o que me chamou atenção foi a grande mancha vermelha em minha testa. Sangue. Alguém havia me dado uma pancada e tanto, e o ferimento não era de hoje.
 Respirei fundo, pondo minhas mãos na pia. O que eu iria fazer? Abri as prateleiras a procura de alguma coisa. Toalhas, escova de dente, creme dental, Shampoo, algumas roupas estavam em cima da pia... Qual é, isso por acaso havia virado serviço de quarto?
 De repente vi algo que me interessou. Bem no fundo de uma das prateleiras havia uma caixa que mais parecia uma pochete. Puxei-a imediatamente e descobri que haviam alguns esmaltes ali dentro. Eu ri. Irônicamente, eu achei aquilo engraçado. Eu não devo ter sido a única hóspede. Já estava perdendo as esperanças quando uma luz metal brilhou bem no fundo da bolsinha. Um alicate.
 Uma chama se acendeu dentro de mim. Um alicate. Não era muito, mas era alguma coisa. O que eu mais queria na vida era sair daqui. E aí tudo certo. Eu não sabia onde estava, nem sabia se era dia ou noite lá fora, mas eu me virava. Não tinha noção de tempo, mas tinha certeza, pelo estado de meus ferimentos, que já haviam se passado umas 48 horas desde que eu sumi. Jesse estava me procurando, Candice também, eles não iriam desistir, eu tinha certeza.
 Peguei o alicate e guardei as coisas em seu devido lugar. Estava pronta pra tentar sair desse lugar, custe o que custasse. Respirei fundo e me preparei pra sair do quarto quando de repente escuto barulho de chaves.
 Antes disso, o quarto estava em um silêncio tremendo, eu não ouvia nada do lado de fora. Agora eu ouvia a porta sendo aberta e eu ainda estava no banheiro, o que me causou náuseas. O que eu faria agora?
 Fiz a primeira coisa que passou pela minha cabeça: rastejei um pouco para apagar as luzes do banheiro antes que eles percebessem e fechei a porta, me recostando atrás de uma enorme pilastra de mármore que eu havia reparado na última hora. Com o alicate na mão.
 Eu preferia pensar que hoje não era meu dia de morrer.

sábado, 3 de maio de 2014

Capítulo 2

 Ás 19:30 em ponto, eu estava mais do que pronta. Já tinha me posto em um vestido azul-marinho que havia ganhado de Jesse a um tempo, mas nunca tive uma oportunidade pra usar. Pelo menos não como essa. Soltei meu cabelo e fiz alguns baby-liss nele, pra não ficar tão escorrido e sem graça como ficava sempre. E usei maquiagem, pra variar. Se Candy soubesse que saí pra aquela noite sem maquiagem, ela me mataria sem piscar.
 Jesse buzinou lá embaixo, como costuma fazer. Desde que esse elevador quebrou, ele não sobe mais aqui pra simplesmente ficar vendo eu me arrumar. Dei uma rápida olhada pela janela e desci quase com pressa, o salto do sapato batendo firme no piso, assim como meu coração dava retumbadas dentro do peito. Até eu e toda minha pouca frieza sabiam que aquela não era uma noite qualquer.
 Antes de Jesse me dar um simples boa noite, eu simplesmente o beijei. E não foi um selinho sem graça nem nada disso, o beijei de verdade, sem me importar se os velhos do prédio iriam estar olhando feio pra nossa cara. Eles podiam olhar, eu não me importava. Jesse não se surpreendeu e pegou pela minha cintura, me beijando com mais vontade ainda, me deixando sem fôlego por um momento. Quando nos afastamos, ele sorriu e tirou uma mecha do meu cabelo da testa.
 — Como você pode estar cada dia mais linda? — ele sussurrou, encostando sua testa na minha, me dando mais um longo beijo.
 Eu sorri, impressionada como Jesse ainda me fazia corar com elogios depois de tanto tempo. Ele abriu a porta do carro pra mim, educadamente, enquanto eu entrava. Ele foi rapidamente pro banco do motorista e seguimos caminho.
 O Borderline nada mais é do que o restaurante mais caro e chique da cidade. Jesse era fascinado por antiguidades, essas coisas de época, e esse restaurante era exatamente isso. Haviam muitas pessoas hoje, supondo que ainda era quinta feira e amanhã ainda era dia de trabalhar. Ele reservou uma mesa pra nós em um canto, segundo ele, pra podermos nos pegar mais. Não me sentia muito a vontade nesse tipo de ambiente, que pra Jesse era a coisa mais normal possível.
 — Ta tudo bem, meu amor? — ele perguntou em voz baixa enquanto eu dava umas olhadas em volta.
 — Sim. Claro que sim. — eu dei uma risada enquanto pegava o cardápio sobre a mesa.
 Jesse bufou, sabendo exatamente no que eu pensava.
 — Lisa, eu sei que é desagradável pra você, mas hoje não dava pra gente ir comer um cachorro-quente da barraca. — ele passou o dedo levemente por meus lábios — Não estou dizendo que é ruim, eu adoro, você me ensinou esse outro lado da vida que eu não conhecia, admito, mas hoje é um dia especial. — ele me deu um beijinho, dando um sorriso magnifíco.
 Bufei, sabendo que não havia outra opção.
 — Então promete não pedir essas comidas italianas, russas ou seja lá o que for? Essas comidas com nomes difíceis...
 — Tudo bem. — ele riu, e riu com vontade. Devia estar se recordando das vezes que me levou a jantares chiques e eu passei vergonha em todos eles — Peça o que você quiser. E é sério.
 No final, pedimos apenas um frango com umas entradas salgadas e depois Jesse pediu um pequeno bolo de coco com leite condensado, meu preferido. Ás vezes eu me constrangia com o tanto que ele cuidava de mim.
 Após o jantar, Jesse pegou na minha mão e me encarou com os olhos brilhando. Ah não. A previsão de Candice.
 — Lisa, eu sei que não estava esperando por isso, mas...
 — Jesse. — falei sem pensar, o repreendendo. Ele parou de falar e me olhou meio assustado, também esperando, mas eu não conseguia falar mais nada. O que vinha depois daquilo? O que vinha depois?
 — Por favor, só um minuto. — ele sussurrou, apertando ainda mais a minha mão. Podia sentir seu nervosismo emanando no ar — Lisa, hoje nós fazemos 4 anos de relacionamento. Não sei pra você, mas foram os melhores anos da minha vida. Tudo ao seu lado é perfeito, você é minha paz, posso até dizer de forma exagerada que você é minha vida... E sem ser metafórico e meloso demais, eu preciso de você. Apenas. Lutamos muito pra chegarmos até aqui, no começo era só eu e você contra o mundo, contra o preconceito e a cabeça louca dos meus pais, contra a sua teimosia e minha cabeça dura, mas vencemos hoje. Meu amor, eu posso dizer com todas as palavras que eu te amo. Nunca estive tão certo disso na minha vida, e nunca vou deixar de te amar, outra certeza que eu adquiri ao longo desse tempo. Ficar com você pelo resto da vida é tudo que eu quero, Lisa. Mas eu preciso saber se essa também é a sua vontade. — nesse momento, ele levou as mãos ao bolso do terno e eu arfei. Minha cabeça estava uma bagunça naquela hora, mas ela pareceu levar um choque elétrico quando ele tirou a clichê caixinha de veludo preto e lá de dentro surgiu um lindo anel de diamantes, e tenho certeza que eram de diamantes pela magnitude do tamanho e brilho. Eu queria colocar as mãos no peito pra ver se ele dava uma acalmada — Lisa Fitzpatrick, eu sou péssimo nisso... — ele deu uma risadinha nervosa e pude ver que estava suando — Mas... Eu... Eu quero me casar com você. Eu nunca falei tão sério e com tanta certeza na minha vida. Não vejo nada nos impedindo, nenhuma pedra, ninguém, não mais. Então... Você aceita? Aceita se casar comigo?
 Aquele momento acabou comigo. As palavras estavam na ponta da língua, mas parecendo tropeçar e rolar para baixo novamente. Eu estava imóvel, apesar de já ter previsto esse momento. Candice, vaca, é claro que ela já sabia! Olhei de esguelha para as mesas ao lado e pude ver alguns rostos se virando para nós. Não pelo pedido de casamento, é claro, mas por causa do anel, oras. Era lindo demais, e aquilo tudo estava romântico demais. Reformulei em minha cabeça que eu só tinha apenas 2 segundos para pensar.
 A vida inteira. Pelo resto de sua vida. Sempre me imaginei assim com Jesse. Minha vida inteira com Jesse. Eu o amava, isso era certo. De repente uma chama se acendeu em meu coração, e uma felicidade completa me tomou. Sem perceber, eu abri um sorriso, ao olhar dentro dos olhos de Jesse, que já parecia aflito. Era com ele, é claro. Eu tinha certeza.
 — Jesse... — eu sussurrei, procurando ao máximo não me virar para trás e ver vários pares de olhos me encarando — Você está maluco?
 Uma resposta nada inteligente. Jesse pareceu murchar um pouco, as mãos começando a ficar trêmulas, mas antes de ele falar algo, eu colei nossos lábios. Só pra ele não falar nada, pra que ele entenda a resposta de uma vez por todas. Pude senti-lo largar a caixinha na mesa e colocar as mãos no colo, tão incapacitado até para me beijar.
 Me afastei e quase tive um ataque de risos ao ver Jesse me encarando imóvel, como uma máquina, e sabia que ele não ia relaxar até receber um sim oficial.
 — Sim, Jesse. — eu sussurrei, passando as mãos em seu rosto, enquanto aos poucos ele voltava a sua forma normal — E então, não está na hora de colocar esse anel ridiculamente lindo e caro no meu dedo?
 Jesse pareceu "acordar" e pegou a caixinha tão rápido que pareceu um borrão. Suas mãos pararam de tremer um pouco enquanto ele colocava o anel no meu dedo, dando um beijinho em seguida. Depois, me deu um beijo tão demorado que fiquei constrangida por estarmos em um lugar público.
 — Vamos sair daqui. — ele sussurrou em meu ouvido enquanto no instante seguinte nos levantávamos da mesa e seguíamos pro carro.

 Jesse tirou meu vestido com violência ao passarmos pela porta de seu apartamento, enquanto eu tentava ao máximo tirar sua gravata enquanto o mesmo não parava quieto. Em um movimento rápido, ele rasgou a camisa, me apertando mais pra si enquanto eu tirava meus saltos com dificuldade. Ele me jogou na cama com lençóis brancos, admirando por um momento meu corpo e o que eu estava usando. A bendita lingerie que Candice havia me dado, preta de renda, especialmente pra um momento como esse. Eu tinha uma amiga mais do que esperta.
 Ele beijou meu pescoço, meus seios, minha barriga, enquanto eu puxava seus cabelos, gemendo de prazer. Minhas mãos procuravam suas calças, queria retirá-las o mais rápido possível. Vendo minha urgência, ele mesmo retirou as próprias calças, mostrando suas boxers de marca e continuando a me beijar. Em um movimento rápido, eu já estava por cima dele, tirando o que ainda havia de pano em mim. Ele passou as mãos em minha cintura, na minha barriga, apertou meus seios por um tempo, completamente fascinado. Senti sua ereção por baixo de mim e beijei seu pescoço, seu abdomem, enquanto ele arfava, se segurando para não começar a gemer. Cheguei até sua cueca e a retirei enquanto fazia um sexo oral rápido, onde Jesse deu um gritinho, segurando meus cabelos e me puxando novamente para sua boca, me beijando como um louco.
 Ele me passou pra debaixo dele mais uma vez e não perdeu tempo até começar com a penetração raivosa e deliciosa que ele estava esperando. Não conseguia imaginar em como ele me deixava assim, molhada, querendo cada vez mais ele. Ele é tão gostoso! Minhas mãos foram até suas costas, e não percebi o quanto eu o arranhava e puxava seus cabelos. Jesse ia cada vez mais rápido, e eu gemia ainda mais. Ele beijava meu pescoço ou passava o lábio por meus seios, me deixando cada vez mais tentada a ter um orgasmo.
 Depois de 2 horas, Jesse estava sentado na cama enquanto eu estava no colo dele, com minhas pernas pela sua cintura, exatamente em cima de seu pênis enquanto eu ainda o sentia meio ereto. Isso dava prazer a ele, eu sabia. Minhas mãos estavam em seu pescoço enquanto eu mexia lentamente o quadril e ele me observava, como se eu fosse a coisa mais maravilhosa já existente em seu mundo.
 — Você é linda. — ele ainda estava ofegante, olhando em meus olhos. Afastou uma mecha de cabelo da minha testa suada e me beijou rapidamente — Eu amo você. Amo como nunca amei ninguém.
 — Eu acho melhor mesmo. — brinquei, encostando minha testa na dele, dando beijos em toda parte de seu rosto — Porque agora serei a futura senhora Robins, quero que me ame pra sempre.
 Ele abriu um sorriso imenso e me beijou com força, apertando suas mãos em minha bunda como gostava de fazer.
 — Mais do que ontem, e hoje muito menos que amanhã. — ele falou, sorrindo como um idiota — Ainda não acredito que isso está realmente acontecendo...
 Nos beijamos por um longo momento, uma urgência que vinha de mim. Queria que ele acreditasse. Era exatamente aquilo que estava acontecendo. Eu iria ser dele pra sempre, ele iria ser meu, somente meu. Iríamos ser felizes, nada mais iria dar errado, tudo estava escrito, pronto pra dar certo. Meu coração estava pulsando de alegria, e o dele mais ainda.
 Dei uma olhada para o lado, enquanto Jesse beijava meu pescoço e vi o relógio no despertador ao lado da cama. 23h. Puta que pariu!
 — E eu não acredito que eu tenho que ir... — sussurrei, me virando pra ele.
 Jesse arregalou os olhos pra mim, como se eu estivesse falando em outra lingua. Ou sim, como se eu fosse uma louca.
 — O que? Como assim? Achei que passaria a noite aqui... — ele estava tão frustrado que seus olhos ainda mostravam espanto.
 — Eu sei, meu amor, eu sei... Mas amanhã eu ainda tenho estágio, lembra? Eu tenho que ir pra casa e dormir, afinal. — eu ri, passando as mãos em seu rosto — Juro que eu queria ficar por hoje, mas não dá. Estou me odiando por ir embora, acredite. Mas você sabe, amanhã serei toda sua pelo fim de semana inteiro.
 — Você tem roupas aqui, várias coisas... Tem certeza de que não pode ficar? Está muito tarde, Lisa, eu me preocupo...
 — Jesse. — o interrompi — Viverei minha vida inteira com você, qual a diferença de ficar sem mim por uma única noite?
 Jesse conseguiu sorrir um pouco depois que disse isso, mas sua expressão logo voltou pra preocupação.
 — Só me prometa uma coisa. — ele falou baixo, entrelaçando seus dedos nos meus — Que amanhã mesmo, sem pestanejar e sem alguma teimosia, você se muda pra cá, pro meu apartamento. Traga tudo, suas coisas e tudo que quiser, sai daquele lugar e vem morar comigo. — ele me beijou, com meu rosto em suas mãos, olhando fixamente em meus olhos — Por favor, me promete. Promete que vai fazer isso, que vamos fazer isso.
 Eu estava pronta pra enfrentar Jesse naquilo, mas no momento travei. E pensei. O que eu estava esperando? Qual seria o enorme problema? Estávamos noivos. Podia ser a menos de um dia, mas ainda assim, eu aceitara seu pedido de casamento. Jesse tinha tudo de bom a me oferecer, e já estava na hora de eu parar de ficar negando essas coisas.
 — É claro. — eu sorri, beijando-o com satisfação. Estava feliz, isso definia.
 — Vou te buscar na hora do almoço. Vou contratar amanhã mesmo um caminhão de mudanças e vamos retirar todas as suas coisas daquele apartamento. Amanhã você é oficialmente só minha, Lisa. Pra sempre.
 Nos beijamos por mais um tempo, um beijo completamente mais quente, mas antes que eu pudesse me deixar levar e acabar caindo na cama novamente com ele, eu me levantei e comecei a seguir pro banheiro. Jesse veio atrás de mim, é claro.
 Quando saímos do banho e eu já estava começando a me trocar, vi que já eram 23:40. Mas não importava, não podia dormir ali naquele momento, por mais que todos os instintos do meu corpo me dissessem pra ficar, pra não ir embora. Jesse ainda estava com a toalha na cintura enquanto eu colocava o vestido e vestia meus sapatos com pressa.
 — Só espera mais um pouco pra eu me trocar que vou te levar...
 — Não. — parei bruscamente o que estava fazendo, me virando pra ele com as mãos pra frente — Você vai ficar em casa, Jesse Robins. Já está muito tarde, então nem tente.
 Ele me olhou novamente como se eu fosse louca.
 — Acha mesmo que vou deixar você ir sozinha pra casa nesse horário? Nem por nada. Não adianta, eu...
 — Amor, relaxa. — eu me aproximei dele, o beijando, com as minhas mãos em seu rosto — Eu pego seu carro, tudo bem? Amanhã vou com ele até o trabalho e depois dirijo até sua casa no almoço, não precisa ir me pegar. Se quiser fazer o que for de manhã, pegue seu outro carro, não faz diferença. — eu ri, mas ele continuava sério, na dúvida — Olha, você sabe que sei me virar sozinha. Pelo menos, eu tento. Eu vou ficar bem.
 Dei um sorriso convincente, fazendo ele amolecer um pouco. Pareceu pensar por 2 minutos, avaliando todas as opções e argumentos que ainda tinha, mas no fim suspirou e pegou as chaves em cima da mesinha de cabeceira, dando na minha mão.
 — Por favor, prometa que vai ficar bem.
 — Claro que eu vou. Eu sempre fico. — sorri, dando mais um longo beijo nele — Eu te amo.
 — Te amo. — Jesse sussurrou, me dando seu típico beijo de despedida: um beijo lento, um amasso quente, um beijo gostoso demais pra ser descrito.

 As ruas estavam escuras como breu. Como era Nova York, a cidade não dormia, então ainda haviam dezenas de carros circulando pelas ruas. Meus olhos já começavam a pregar de sono, mas eu já estava perto. Meu bairro era completamente ao contrário de todo o resto de Nova York. Uma rua escura e sinistra, com postes quebrados e vizinhos mais estranhos ainda. De repente me dei conta de que não vou ficar tão infeliz assim se finalmente meter o pé daqui. Era assustador nesses horários, onde o único barulho que ouvíamos eram os da cidade ao longe ou do bairro vizinho, onde todos os restaurantes e bares ainda deviam estar abertos.
 Subi as escadas rapidamente e abri a porta do 8D. Mal cheguei ao quarto e já estava tirando meu vestido e sapatos, substituindo-os por minha camisola de renda, a qual também era presente de Candice para usar em momentos com Jesse, mas não era necessário, era muito confortável pra dormir. A última que me lembro é me deitando na cama antes de apagar completamente.
 Acordei subitamente com barulho de passos e vozes dentro de minha casa.

Capítulo 1

Por Lisa..

 Saí do hospital apressada, enfiando o jaleco na bolsa de qualquer jeito. Prendi os cabelos em um coque desarrumado no mesmo instante em que o celular tocou, e o nome de Candice apareceu piscando no visor.
 — Eu juro que estou chegando! — praticamente gritei ao telefone enquanto atravessava correndo o sinal enquanto ainda estava fechado. Mal sabe ela que não estou nem a 4 quarteirões do restaurante.
 — É mentira, sei que ainda deve estar cruzando a Deacon Road. — falou ela. Droga, esqueci do quanto Candice me conhecia — Seu lugar está guardado, então tem como apressar o passo só um pouquinho? Aqueles donuts na prateleira estão me chamando, praticamente berrando em meus ouvidos, e você sabe da minha dieta.
 Soltei um grande suspiro.
 — Acalme-se, Candy. Não se deixe levar pelas vozes dos donuts. Lembrou de respirar e fechar os olhos? — falei, usando nossa antiga técnica que usávamos em todas as ideias de dietas de Candice, enquanto corria contra o tempo e cruzava o último quarteirão.
 — Que tal outra hora? Tem muita gente aqui hoje, sabia?! Ah é,você nem chegou ainda! — ouvi ela bufar alto — Lisa! Joseph Morgan acabou de entrar! Parece que meu coração vai saltar pela boca, tem como você chegar agora?!
 No mesmo instante, irrompi da porta do Enzo's, praticamente indo ao chão com o enorme tombo que levei. O lugar estava lotado e barulhento, portanto não me notaram. Tirando a garçonete que passava por ali naquele instante e praticamente se dobrou de rir de um modo discreto, mas ela não conta. Pelo menos não pra mim.
 Vi Candice sentada a uma mesa da direita, ao lado da janela. Sentei em uma cadeira a sua frente e olhei na mesma direção que ela.
 — Ah, por favor, pare. — pedi, apontando discretamente para o alto de cabelos dourados e barba rala por quem Candice vivia pagando um pau — Ele nem te nota.
 — Como me notaria enquanto conversa com aquela vadia da Phoebe? — ela olhou feio para a morena escultural ao lado de Joseph enquanto bebia sua água. Respirei fundo.
 — Candy, eu já te falei mil vezes: parte pra outra! Joseph não é o único cara gato do mundo, o que não falta é homem.
 — Ah, claro, você diz isso porque já tem o Jesse! — ela resmungou, pegando o menu — Eu ainda vou ficar com 50 anos, presa em uma casa, fedendo e morando com 10 gatos. Sem ninguém, ouviu bem? Porque pelo jeito que as coisas andam, parece que meu futuro não é muito imprevisível.
 Revirei os olhos e, antes que pudesse falar alguma coisa, a garçonete se aproxima de nós. Aquela que havia rido de mim na entrada.
 — Já escolheram? — perguntou ela, fazendo o máximo de esforço pra não olhar pra mim, pois sabia que cairia na gargalhada novamente.
 — Pode me trazer o prato do dia, com fritas e uns dois burritos pra depois, seis donuts recheados de coco e chocolate e uma cerveja. — Candice disse sem nem olhar pra garçonete, e continuou lendo o menu pra ver se escolhia mais alguma coisa — Não, quer saber, não me traga uma cerveja, eu ainda tenho que dirigir. Me traga um suco de laranja com bastante açúcar, em uma jarra, por favor.
 Arregalei os olhos por um instante, parecendo ver em minha frente a dieta de minha amiga indo pro espaço. A garçonete anotou tudo com cautela e se virou pra mim, abrindo um sorriso largo demais.
 — Pode me trazer o prato do dia com muita salada e uma água, por favor. — falei devagar, ainda olhando Candice.
 Quando a garçonete se retirou, fulminei Candice com o olhar.
 — Você está maluca? Seis donuts?! — fiz o número com as mãos — O que tínhamos combinado? Não se deixe levar pelas vozinhas!
 — Ok, ok, eu fui precipitada! Mas elas gritaram tanto que estavam ficando insuportáveis. — ela bufou, apoiando os cotovelos na mesa e olhando diretamente pra mim — E então, salvou muita gente hoje? Consegui te tirar do ambiente dos doentes e finalmente almoçar com você, como fazíamos antes.
 — Não diga isso. — ri da ironia dela, me recordando naquele momento de quanto tempo fazia que não almoçávamos juntas — E você sabe que ainda não sou oficialmente uma médica. Estou na fase de residência, esqueceu?
 — Mas já se comporta como uma, minha amiga! Participa das cirurgias e tudo, e ainda trabalha com aqueles médicos gatos do hospital de Manhattan. Se eu fosse você, dava um jeito de ficar doente a qualquer minuto pra eles me consultarem de verdade...
 — Ei! — olhei feio pra ela, em sinal de repreensão, mas na verdade não saiu como eu esperava. Dois minutos depois rimos disso, em compensação.
 Candice é minha amiga de infância, e muito louca, por sinal. Tem 22 anos e está cursando uma faculdade de Moda e Design, que veio depois da de Jornalismo, que veio depois da Educação Física. Essa foi por causa dos professores, mas isso nem vem ao caso.
 Candy tem um probleminha com homens. Seu último relacionamento durou 3 meses, e ela largou o cara porque ele simplesmente não era um guitarrista renomado e nem bonito o suficiente para causar inveja. E, claro, porque não era romântico o bastante. Desde esse cara, ela se intitulou anti-caras, faltando colocar uma placa de probido homens na testa. Isso foi até ela conhecer Joseph, o filho do dono da concessionária Toyota na cidade e que cursava Engenharia Civil na mesma faculdade que Candice. O cara era charmoso e tudo mais, mas só havia falado com Candice uma vez, e foi para perguntar as horas. Nada mais do que isso, e desde então ela é obcecada pelo cara. Mais ou menos isso.
 — E não tem chapinha no consultório médico? — perguntou ela após nossa comida chegar, enquanto ela já tirava os donuts do prato em primeiro lugar.
 Sabia que ela se referia ao meu estado. Um coque torto e bagunçado e minha camisa meio amassada. Mesmo sem me olhar, eu sabia que minha cara devia estar parecendo a de uma pessoa que não dorme a dias.
 — Não, e nem um ferro. — eu ri, bebendo um gole do suco enquanto Candice fazia uma cara de nojo pra mim — Não olhe pra mim assim, isso é o estado de uma pessoa que trabalha, com licença.
 — Eu também trabalho, e não saio a luz do dia nesse estado.
 — Você é estagiária em um estúdio de fotografia, não compare. — eu bufei, dando a primeira garfada em meu bife com fritas. Só agora percebi o quanto estava faminta.
 Candice pareceu perceber, pois me olhou de olhos esbugalhados.
 — Ei, vá com calma, Godzilla! — ela deu um tapinha na mesa, e reparei que eu não havia parado de mastigas, pois antes da primeira garfada descer goela abaixo, eu já estava colocando outra na frente — Cruzes, Lisa, parece que não come a dias. Eu falo pra você maneirar um pouco no trabalho, parece que só vive pra isso.
 Revirei os olhos e continuei a comer como se ela não havia dito nada.
 Quando acabamos, a garçonete veio juntar nossos pratos e em seguida trazer os burritos de Candice e mais um pedaço de torta e um milk shake que ela pediu na hora. Ela também jogou o jornal do dia sobre a mesa, mas eu nem reparei.
 — E então, hoje você vai encontrar o Jesse? — ela perguntou, lambendo os dedos com a cobertura de chantily da torta.
 — É, vou sim. — respondi, sem prestar muita atenção — Ele quer me levar no Borderline novamente, eu não entendo.
 — Ah, eu é que não entendo você, Lisa! Dá pra levantar as mãos aos céus e agradecer por você ter um namorado gato e rico que te ama mais do que a própria vida e te paparica com roupas, presentes caros, restaurantes caros, viajens caras e etc?! — ela levantou a sobrancelha, como se aquilo já bastava.
 Eu revirei os olhos, balançando a cabeça. Eu ficava frustrada com esses pensamentos de Candice, como se a fortuna de Jesse fosse algo que eu apreciava. Nunca foi e nunca será.
 Jesse Robins era meu namorado por 4 anos. Aliás, hoje nós completávamos 4 anos. Ele era filho e quase-presidente da Agência Robins, uma empresa de relações internacionais propagada ao lucro completo. O sr. David Robins, meu atual "sogro", era um grande homem de negócios que praticamente fabricava dinheiro em todo o país, e fora dele. Por sorte, Jesse se interessava pela mesma área e estava seguindo os mesmos passos do pai, e seu futuro já estava mais do que garantido.
 Nós nos conhecemos em uma simples conferência de medicina, onde eu, por sorte ou destino, seja lá qual for, fui acompanhar o doutor Hendrick, já que na época eu ainda era apenas uma ótima aluna de classe da faculdade e estava dando passos largos para meu grande estágio no Hospital de Manhattan. Jesse e o pai e mais alguns da empresa estavam lá pra dar uma palestra aos estudantes e médicos, pois uma grande parceria se formaria ali. Não sei como, ou quando, e até hoje não entendo como Jesse me viu e me observou no meio daquela multidão, cheio de estudantes de medicina — como eu — louras, gostosas, ricas e bem sucedidas. Mas aconteceu.
 Jesse era lindo. Era daqueles caras que nunca passam despercebidos nas ruas. Seu cabelo cor de areia era meio repicado em um corte exclusivo, e sempre andava impecável, seu corpo forte e magro escondido atrás de roupas de marcas importadas e caríssimas. Dirigia uma BMW preta novinha em folha e morava no melhor bairro da cidade, em compensação.
 Enfim, nossa história se desenrolou em muitos altos e baixos e aqui estamos nós hoje, completando 4 anos de relacionamento. Eu o amo, e o amo demais. Jesse me ajudou a superar expectativas que antes eu não achava ser capaz, ele sempre esteve do meu lado, acima de tudo é meu amigo, e beija muito bem — na cama ele é sensacional, mas procuro não divulgar muito isso.
 — Você sabe o que significam 4 anos, não sabe? — Candice continuou, vendo que não respondi — Alô-ou! Acorda, cinderela, se prepare pra um lindo anel de diamantes passando por esse seu dedinho, meu bem.
 — O que? — eu dei uma risada forçada — Claro que não. Como pode ter tanta certeza disso?
 — Ah, fala sério! Vai me dizer que nunca conversaram sobre isso? Nunca pensaram em nenhum momento na possibilidade? — ela parecia espantada.
 — Claro que já falamos sobre casamento, oras! — bufei — Mas duas ou três vezes, nada sério ou oficial. E uma delas foi vendo o reality do Glitz, então nem conta. — dou de ombros.
 Candice piscou os olhos, ainda me olhando espantada como se eu fosse a maior doida varrida que ela já havia conhecido.
 — Vocês são malucos. — ela murmurou — O cara te ama, Lisa. Porra, vocês se amam! O que estão esperando? Que do nada uma luzinha vai piscar na cabeça de vocês e pronto!, estou com vontade de casar?! Mas é claro que não! Os anos passam, nós ficamos velhos, quando perceberem já vão estar com 30 e o casamento já vai estar completamente fora de moda e perder a sua magnitude que ainda resta, minha amiga! Estou dizendo, não perca tempo, enlace logo seu gato oficialmente antes que bruacas assassinas venham pegá-lo de você. — ela bufou, dando uma enorme mordida na torta, como se estivesse aborrecida.
 Eu segurei o riso. Candice era louca pra casar, era seu sonho de vida. Os caras que ela conheceu não tinham a menor vontade disso, por isso me considerava a maior sortuda do universo. Vendo que ela iria continuar com raiva e olhando pra janela, peguei o jornal jogado na mesa que a garçonete havia deixado e li apenas o que havia na primeira página, tão estampado que quase ofuscou meus olhos.
 Havia a foto de um cara. Cabelos negros e bagunçados, olhos muito azuis e raivosos. A notícia era bem clara: "Logan Lerman continua a solta!", seja já quem fosse. De repente me lembrei do noticiário que passou na TV a alguns dias atrás, enquanto eu almoçava no hospital. Pelo jeito, esse cara estava em todos, e era um assassino daqueles que a gente não pode nem sonhar que dá medo. O cara era perigoso e havia cometido mais um homicídio, pra variar. Todos a sangue frio.
 Um arrepio se passou pela minha espinha.
 — Ei, Lisa! — gritou Candice aos meus ouvidos — Acorda! O que está lendo nesse jornal?
 — Nada. — balancei a cabeça, jogando o jornal de lado de qualquer jeito.
 Não adiantou, Candice pode ler o que estava escrito.
 — Ah sim, ainda estão falando nesse tal Logan. — ela chupou um pouco do milk shake — Sinceramente? Esse cara me dá medo. Medo não, me dá um completo pavor! Acho que se eu estivesse andando a noite e entrasse em um beco qualquer e ele aparecesse do nada na minha frente, eu juro que morria do coração, amiga, eu caía durinha e nunca mais voltava, de tanto medo desse cara. Olha esses olhos! São lindos, mas são pavorosos. Aliás, o cara todo é um gato de doer, um verdadeiro deus do sexo, mas nada disso importa perto de quem ele é...
 E ela continuou tagarelando sobre o tal Logan por um tempo, e eu não me dei ao trabalho de ouvir. De repente virei a cabeça e olhei o relógio por sobre o balcão. Precisava ir pra casa, urgente. O metrô aquela hora deveria estar horrível, por isso estava agradecendo a Deus por Candice estar ali pra me dar carona.

 Candice estacionou o Camry V6 na porta do meu apartamento na avenida Bogstreet. Não era lá grandes coisas — e não era mesmo —, mas só pra mim era tudo que eu precisava. Era um prédio meio velho e caído, com tijolos vermelhos e o elevador não funcionava mais. Não havia porteiro e nem nada, o próprio havia se demitido. Era eu no apartamento 8D e mais alguns vizinhos espalhados, aos quais eu nem conhecia. Só uma velhinha no andar de baixo.
 — Eu não sei o que você ainda faz nesse lugar. — Candice suspirou — Não sei quantas vezes Jesse já te ofereceu apartamentos, um melhor do que o outro, e você continua nessa espelunca, fala sério, Lisa.
 — Eu pago essa espelunca, Candy. — encarei ela — Pago com o meu dinheiro, com o meu trabalho. Quando eu for uma médica renomada e finalmente rica, eu compro o melhor apartamento da cidade.
 — Não precisa ser uma médica renomada, o Jesse já te dá tudo. Ou melhor, pelo menos ele tenta. — ela semicerrou os olhos, como se eu fosse a culpada — Não está vendo agora? Se não fosse pela sua amiga linda e maravilhosa aqui, você estaria pegando um metrô lotado de gente nojenta e fedendo nesse horário, e tudo porque você não aceitou aquele RAVA fabuloso da Toyota que Jesse queria te dar! Poxa, sabia que eu o ajudei a escolher aquele dia?
 Revirei os olhos, começando a me entediar.
 — Não vamos começar com isso, ok? Eu to cansada, tenho que tirar um cochilo antes de me encontrar com Jesse, não quero que ele me veja nesse estado. — eu ri fraco enquanto tirava o cinto.
 — Lisa... — ela suspirou — Por favor, prometa não dar um pé na bunda de Jesse se ele lhe pedir realmente em casamento. Aproveita pra pensar, benzinho, olha só o que vai estar perdendo. E tudo vai dar certo. — ela abriu um largo sorriso.
 Murmurei algumas palavras e me lancei pra fora do carro prata, indo em direção ao portão enquanto Candice cantava pneus pela pista. Ainda bem que comigo ela maneirava um pouco o jeito de dirigir. Subi as escadas e entrei no meu apartamento, só pensando em me atirar na cama e nada mais.

☀ ✨

 Então, olá meninas! Alguém aí se lembra de mim? Antiga Lari Musso e bla bla bla.. Já faz muito tempo. I'm back haha enfim, vou começar essa história com o Logan, divo, perfeito, maravilhoso, e eu espero realmente, realmente mesmo que vocês gostem. Tenho muitos planos pra ela e pretendo terminá-la, se tudo der certo. Sei que vão ter muitos fantasminhas aqui no momento, porque ninguém vem aqui a tempo, nem eu... Mas vou passar a redivulgar o blog, e agradeceria se alguém também ajudasse >:O enfim, é isso aí, comentem por favor, quem ainda está por aqui, e aguardem o próximo capítulo. Beijos e abraços, fui! 🎉

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Oi, alguém ainda lê?

Boa noite, pessoal. Como vocês estão? Bem, nesse momento estou com sono e cansada, mas bem. Ok, ninguém perguntou. Enfim, eu vim aqui com o objetivo de aparecer, e é claro, mostrar que eu não morri, como algumas devem estar pensando - eu acho. Olhem só, eu sei que muitas estão querendo essa história! Na verdade, eu comecei essa história nem imaginando que ela ganharia essa "up", acharia que ninguém iria querer ler, e eu estava enganada. A história pode não ter voado tanto, mas fez mais "sucesso" do que eu imaginava. E olha que só tem 3 capítulos! Mas olhem só, eu repito, eu não morri. Eu estou aqui e estou tentando dar alguma explicação, dar notícias.
 Estive sim afastada. Nossa, onde que eu iria imaginar que iria ficar longe do blogger por 1 ano? Nunca! Não sei o que aconteceu, e não é por falta de tempo, é por falta de vontade mesmo. Para as que leêm o meu outro blog, eu lá expliquei tudo o que Deus fez na minha vida, que eu me converti e essas coisas. Alcancei a salvação e agora adoro ao Senhor :D eu deixei bastante coisa da minha "velha" vida pra trás, e acho que esse blog foi uma delas. Mas não, eu não vou acabar com essa história! Cara, de qualquer forma, eu ainda continuo com aquele amor platônico, aquela queda enorme pelo Mitchel Musso... Véi, acho que nunca vou mudar isso. Sempre que eu ver uma foto dele, um clipe, um vídeo, eu vou suspirar. Ele é e sempre será meu rockeiro perfeito. Eu não o idolatro tanto assim mais, só que eu ainda continuo com meus olhos brilhando sempre quando falo nele ou penso nele. Estranho, não é? Mas sei que todas já se sentiram assim por algum artista.
 E essa história significa muito pra mim. Muito mesmo. Eu estou disposta a voltar ao mundo dos blogs. Eu abandonei a minha antiga história do outro blog, mas não quero abandonar essa. Não quero mesmo. Essa história eu tenho tantos planos pra ela, tenho muita coisa pra fazer, ela tem tudo pra ser perfeita, nos meus pensamentos. Eu amo o jeito que eu planejei essa história, e eu a amo tanto. E todas sabem que pra uma história perfeita basta você gostar do que está escrevendo, e eu simplesmente amei. No começo eu achei que meu blog iria perder a audiência que tinha porque ninguém lá era tão fã do Mitchel como eu, mas eu vi que todas gostaram realmente da história, então eu vi aquilo e realmente fiquei orgulhosa. Mas por acontecimentos eu não postei mais aqui, mas as ideias não saíram da minha cabeça. Eu entrava pouco aqui no blog, mas sempre quando entrava me dava aquela vontade de continuar essa história, mas eu não conseguia. Na hora eu não conseguia pensar em nada e desanimava, e adeus blogger.
 Mas agora eu quero realmente saber: ainda tem alguém que está aqui? Alguém ainda quer que eu escreva, querem que eu continue essa história? Me desculpem, mas não quero postar pra leitoras fantasmas. Os comentários são importantes para qualquer leitora, e vocês sabem disso muito bem. Então, por favor, se alguém ainda lê isso, comente abaixo. Não vai doer, não vai sangrar, é só comentar... Irá estar me fazendo feliz! (:
Beijos, minhas lindas. Fiquem com Deus s2

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Me desculpem... ;//

E aí, gente? Tudo bem com vocês? ~sorriso forçado~
Ta bom, ta bom, vocês estão putas da vida comigo, eu sei. Que escritora horrível eu sou. Mas, tipo, eu tenho um bom e único motivo pra não postar por tanto tempo.
Eu simplesmente estou horrorizada com essa minha história desse blog. Gente, é sério, to odiando essa história, eu não consigo gostar dela. Sei lá, de uns tempos pra cá eu tava até que gostando, mas sei lá, eu queria mudar. Tipo, apagar todos os arquivos desses capítulos e começar uma nova, com os mesmo personagens, a mesma dramaturgia, mas de outro jeito, entenderam?
- ainda não? ;//
Bom, eu sinceramente to querendo isso. Vai ser tudo igual, mas de um jeito melhor de escrever. Não vou ficar mais enrolando pra tornar mais real, entendem? Tenho que apagar tudo desse blog, só assim vou ficar feliz, vlh. Se eu apagar tudo desse blog, vai ser a melhor coisa do mundo pra mim, vlh. Eu to até com vergonha de novos leitores virem nesse blog e lerem os arquivos passados, eu não to gostando nada daquilo. Não ta legal, ta muito idiota, e eu nem to acreditando que um dia pude escrever uma coisa daquela kkk '
Me deixem fazer isso, vlh. A nova história vai ser melhor, mais emocionante, e vocês não precisam mais lembrar que um dia essa história antiga existiu. Vai ter a mesma história, os mesmos personagens, mas de um jeito melhor. Vou começar tudo de novo, dar um passo adiante nesse blog, vai ser melhor, garanto!

Me desculpem do fundo do meu coração por fazer isso com vocês, me desculpem pra quem gostava dessa história, mas eu sinceramente não tava de boa com ela, simplesmente não gostava de jeito nenhum!
Me desculpem de novo pelo sumiço de sei lá quantos meses.
Vou começar a postar a nova história. Vai ser a mesma coisa, sério, mas de um jeito melhor.

I'm sorry... ;//
Um beijo.
Lari Musso.